Aí está o tão esperado dia 15 de Agosto, o início da segunda quinzena de Agosto, o mês por excelência para os portugueses tirarem uns dias de férias.
O país quase para, mas mal se nota a diferença.
Este ano, e por motivos de força maior – saúde (a minha mãe encontra-se em convalescença) – os meus pais tiveram que optar por um destino praticamente à porta de casa. Conclusão, foram parar a 60km de casa, àquilo que eu considero ser o Algarve do norte. A única diferença é mesmo a temperatura da água. Estou, claro, a falar da famigerada Póvoa de Varzim. Aquela cidade que só o é devido às dezenas de milhar de vimaranenses e cidadãos de outras proveniências que todos os anos compram férias e investem desmesuradamente em apartamentos neste árctico mais esquentado. Já não nutro grande paixão pelo Algarve, e fica bem mais longe de mim (o que me levaria a crer num sentido mais realista do termo “férias”), então a Póvoa de Varzim não me entra no goto nem com grande esforço. E não é por isso que deixa de ser caro.
Como só marquei férias para Setembro, aproveitei para, passados alguns anos, tirar uns dias de férias na companhia dos meus pais. Hoje, ao contrário do que os meteorologistas previam, (ainda vou dedicar uma dissertação cómica exclusiva para estes senhores) o sol raiou bem forte aqui na Costa Verde. Dei um passeio matinal pelo porto e avenida dos banhos acompanhado pela minha máquina fotográfica, e rapidamente constatei que, passados mais de 10 anos sem cá passar férias, tudo está igual, ou até mesmo mais degradado. Desde uma zona portuária inundada de lixo até aos carrosséis caquécticos, que fazem lembrar um país terceiro mundista, tudo contribuiu para uma surpresa extremamente desagradável em mim.
É claro que sou suspeito quando se trata de avaliar praias, e em particular as da Póvoa de Varzim, visto não ser nada adorador da prática da fotossíntese de forma alarve, muito menos quando as condições não se coadunam, a meu ver, com a prática balnear. Tenho pena que, em Portugal, férias continue a ser sinónimo de praia, mas isso já é outra história.
Continuando. Após o repasto deixei-me passar pelas brasas e só quando a tarde já caminhava a passos largos para o seu término é que me decidi a ir estender a toalha no areal junto ao resto da família.
Quando me instalei com a minha leitura entre mãos começaram a florescer como cogumelos vozes francófonas em torno dos meus ouvidos ainda mal habituados do sossego da sesta. O primeiro pensamento que me saltou à mente foi aquele célebre diálogo entre pai e filho emigrantes que vêm passar uns dias à terra:
Pai – Christian, tu vas a tomber!
Filho – Non, papa, non…. Aiiiiiii!!!!!
Pai - Eu não te disse seu filho da **** que ias cair!
Simplesmente hilariante de cada vez que me lembro!
Esta frase demonstra muito da mentalidade dos emigrantes portugueses em relação às suas origens. Quando vejo uma pessoa que emigra e, logo ao fim do primeiro ano, vem para cá já só a falar francês, tanto me dá a entender que é vaidade de já saber “falar” uma outra língua, como pode demonstrar que tem vergonha da sua língua nativa. E então quando vejo famílias inteiras de portugueses que sabem falar francês, ou outra língua qualquer, em simultâneo com o português nativo e relegam o português para segundo plano dá-me um desgosto imenso. É verdade que a grande maioria dos emigrantes são pouco instruídos, sendo então facilmente influenciáveis, mas isso não é desculpa para se ter vergonha das suas raízes e renegar publicamente aquilo que são. E pior é ver que os filhos já estão a ser ensinados segundo a mesma bitola e muitos mesmo já nem sabem sequer o que é a língua portuguesa. O que só prejudica, hipoteca e lesa a cultura e o currículo futuro dos filhos. Os pais deviam sentir-se envergonhados por isto acontecer, já que a culpa é toda deles.
Em suma, pelo que pude aferir hoje, a Póvoa de Varzim continua na mesma, mais prédio menos prédio e continua a não me despertar qualquer encanto. O regresso ao frigorífico consumou-se após vários anos de ausência sem qualquer tipo de remorso ou vontade expressa de cá voltar. A água mantém-se, sem surpresa alguma, fria, e a areia, invariavelmente desconfortável, e tudo aliado ainda ao facto de se estar demasiado próximo de casa e assim conhecermos imensa gente do nosso quotidiano.
Continuação de boas férias…
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