Toda a gente tem que tomar decisões na vida. "Rosa ou azul?", "Calças ou saia?", "Dormir ou chegar a horas?".
Acontece que, não raras vezes, a decisão ultrapassa-nos. Nunca vos aconteceu verem-se perante algo que é extraordinariamente importante mas que, mesmo avaliando os pós e os contras, não parece ter propriamente uma resposta mais adequada?
Certamente que já. Ou então irá acontecer.
O meu problema aqui não se prende propriamente com o ter acontecido ou não, como devem calcular, mas com o modo como se deve lidar com tal situação. Devemos pensar, e pensar, e pensar, até que, após avaliados todos os factores que defendem ambos os lados, um resolva sobrepor-se ao outro? Devemos ser sempre racionais e científicos nas nossas escolhas? Ou devemos deixar que o instinto, muitas vezes confundido com esse belo e precioso órgão chamado de coração, tome a decisão por nós?
Não acredito em signos. Por alguma razão, tenho uma certa relutância em acreditar que as estrelas, aquelas bolinhas fofas de hidrogénio em combustão, controlem a nossa vida. No entanto, um dia fiquei pasmada quando o meu cabeleireiro se saiu com esta frase grandiosa "Tu és balança". Céptica, perguntei-lhe como tinha arranjado a saber a minha data de nascimento, ao que ele respondeu "Não é por isso. Gostas muito de ponderar todas as hipóteses e analisar as consequências antes de agir". Repare-se que o nosso principal tema de conversa é sobre qual o corte de cabelo que terei quando sair do salão, mas, raios, ele tem mesmo razão! Não só sou balança de signo (triste fado) como sou um ponto de interrogação com pernas, um "E se" que raramente aceita metamorfosear-se num "Por que não".
Sendo assim desde que me lembro, e do contra por instinto, penso ser das pessoas a quem o ditado "Olha ao que eu digo, não ao que eu faço" se aplique melhor. Isto porque sei que, se me perguntarem se uma pessoa deve tomar decisões por instinto ou por análise exaustiva, responderia sempre a primeira. Ou pelo menos quase sempre, excluo óbvios exemplos do contrário. Não me ocorre agora nenhum, mas é dito e sabido que a excepção confirma a regra. E, no entanto, como manda o meu comando estelar, quando se aproxima o momento fulcral da decisão, uso e abuso da minha balança interior.
Ora, já a minha mãe tem como regra aparente seguir o que acha melhor sem grandes questões. Segue o lema do "Não sofrer por antecedência", e, assim, não lhe cabe sequer se deveria estar a pensar muito no que poderia vir a seguir. Faz o que acha mais acertado no momento, e raramente se arrepende.
Não posso pôr as minhas mãos no fogo por esta teoria maluca, mas que parece resultar, disso não duvido. Afinal, e como já disse, a minha mãe não tem o costume de sair infeliz das decisões que toma. E se não corre como esperava, aprende com isso e não se fala mais no assunto.
A sociedade de hoje assenta numa população extremamente pensadora e sisuda. "Pensar incomoda como andar à chuva", dizia Alberto Caeiro. É gente que pensa demasiado, que não se deixa levar e acaba por viver mais dentro de si do que para si e para os outros. De certa forma, tenho saudades dos tempos que nunca vivi, esses tempos de inocência pura de antigamente, essa alegria espontânea que ouço falar por via dos meus avós, ou mesmo do meu pai (nostálgico de natureza). Talvez não haja resposta correcta para as primeiras perguntas que faço nesta postagem. E talvez não haja de todo resposta para algumas decisões difíceis que temos que tomar. É aí que deve entrar o coração, sem tempo de "E se's" a interferir.
alcunha
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